O olhar e o excedente: o problema da constituição do alter ego em Husserl
Resumo
Neste artigo, pretendemos compreender a maneira como Husserl, na Quinta Meditação Cartesiana, aborda o problema da alteridade segundo a perspectiva propriamente fenomenológica do idealismo transcendental, a saber: enquanto constituição do sentido alter ego a partir do ego transcendental. Tomando como ponto de partida a objeção de solipsismo, Husserl buscará refutá-la mostrando como a intersubjetividade pode ser constituída a partir da imanência da subjetividade transcendental, sem que isso faça do alter ego seu mero correlato noemático a mesmo título que os objetos da experiência externa. Para isso, será necessário colocar em cena um “novo tipo” de ἐποχή, em virtude da qual se tornará possível, pela delimitação do próprio e do alheio, acompanhar as sínteses e motivações através das quais o sentido alter ego é constituído para o ego precisamente como um outro sujeito. Como veremos, será a ideia de “apercepção analogizante” a responsável por essa constituição, uma vez que ela permitirá dar conta tanto do caráter imediato da experiência do outro quanto da necessária mediatez nela envolvida: trata-se de um entrelaçamento entre presentação e apresentação, entre a percepção estrita e seu “excedente”, levando-nos à primeira transcendência objetiva, a partir da qual se tornará possível elucidar fenomenologicamente a constituição do mundo objetivo.
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