A “ideologia de juventude” como dispositivo de biopoder: a transformação de uma fase da vida em um estilo de vida, e o entrave à emancipação política

Autores

  • Kelly Janaína Souza da Silva UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

Resumo

Em suas investigações, Agamben atribui três características principais ao chamado dispositivo: ele possui caráter heterogêneo, se inscrevendo como uma rede que se estabelece entre elementos distintos; possui função estratégica concreta, que se encerra em uma relação de poder; e, por fim, é algo de geral, pois pode incluir em si a episteme dos enunciados científicos ou não. Assim, faz-se simples tomar por dispositivos aquelas disposições que escancaradamente se manifestam como tal, (aparelhos celulares, de TV, número do CPF, etc.), - formas que facilmente controlam os sujeitos com sua tácita autorização. Entretanto, dispositivos também podem ser, de forma menos óbvia, as ideologias, culturas, processos midiáticos, padrões de comportamento e qualquer outra forma que se encerre enquanto biopoder, sendo ampla e inquestionadamente aceita pela maioria. Atualmente, a ideia de juventude rende crianças e adultos: parece não haver uma demarcação precisa das configurações das etapas da vida. A solidificação da ideia de juventude como uma etapa que não compreende, necessariamente, uma fase ou faixa etária, compromete no “homem político” (homo zoon politikon) a emancipação e a autonomia, obnubilando o sentido de consciência em um cenário que torna trivial a emancipação política. É assim que ela pode ser entrevista como um dispositivo de biopoder.

 

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Biografia do Autor

Kelly Janaína Souza da Silva, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

DOUTORADO EM FILOSOFIA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC)

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Publicado

2018-12-23

Edição

Seção

Artigos