Metodologia em Aristóteles: o tratado eudêmio sobre a amizade
Resumo
ResumoEstudos recentes vêm avaliando a aplicação de afirmações metodológicas de Aristóteles nos contextos investigativos em que comparecem, em consonância à estratégia que Owen (1960) empregou no estudo do tratado sobre a acrasia; procura-se ver a maneira como Aristóteles realiza, no caso particular, os princípios gerais que faz anteceder a suas investigações. Muitos deles têm por objeto tratados das Éticas (KARBOWSKI (2015a, 2015), COOPER (2009), NATALI (2010, 2015)), ou essas obras como um todo (SALMIERI (2009), ZINGANO (2007), FREDE (2012), DEVEREUX (2015), NATALI (2007), KARBOWSKI (2014)), e há razões para isso. Nelas, Aristóteles apresenta muitas considerações que poderíamos chamar metodológicas, e a existência de duas versões (ou três, se tomarmos em consideração a Magna Moralia) de uma dada investigação fornece algo assim como um controle para uma leitura realizada sobre uma das obras, ou constitui ela mesma objeto de estudos comparativos.Nesse contexto, relativamente pouca atenção vem sendo dada a EE VII 2 §1 1235b13–18, uma reflexão sobre método que abre a seção propositiva do tratado eudêmio sobre a amizade. Neste artigo, desejo mostrar que ele fornece determinações metodológicas suplementares às de EN VII 1 1145b3–7. Farei isso a partir de uma interpretação de EE VII 2 §§2–23, onde, como irei mostrar, Aristóteles realiza as prescrições de EE VII 2 §1 1235b13–18.
AbstractThe idea that Aristotle makes use of a dialectical method in his ethical writings has been subject to intense reevaluation in recent works (KARBOWSKI (2014, 2015a, 2015), COOPER (2009), NATALI (2007, 2010, 2015), SALMIERI (2009), ZINGANO (2007), FREDE (2012), DEVEREUX (2015)). Many of them adopt the strategy of examining how Aristotle consubstanciates his methodological claims in his subsequent investigation. In this paper, I justify and apply this program to EE VII 2 §1 1235b13–18, a passage that, dispite its proximity to that of EN VII 1 1145b3–7, has not as yet received its share of attention by commentators. My main claim is that the doctrine of the focal meaning of friendship answers to the prescriptions that Aristotle presents in EE VII 2 §1. I conclude that Aristotle, in the eudemian treatise on friendships, makes use of what we could call a dialectical or aporematic procedure.
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