Vivenciar o absurdo, questionar o mundo: a estrangeiridade em Albert Camus
Resumo
No último século, Albert Camus assumiu para si a função de porta-voz de um problemático estado de coisas, que indicava a abertura às tensões entre a política totalitária e a filosofia de matriz existencialista. O seu pensamento não apenas aguçou uma geração de pensadores a identificar e denunciar os absurdos da existência, mas também foi fundamental para deslocar o papel do filósofo: de crítico da realidade, o filósofo se tornou um interpelador político do mundo. Neste trabalho, analiso o conceito de estrangeiridade como uma das expressões possíveis do absurdo camuseano. Recorro à narrativa de O estrangeiro, observando os sucessivos exílios que o protagonista Meursault sofre ao longo da trama. A filosofia camuseana está introduzida em um jogo de inclusões e exclusões recíprocas entre o homem e a realidade: se o mundo conspira para excluir o homem do espectro de suas respostas, ao homem absurdo cabe se contentar com o pouco que lhe resta, um estado de lançamento inescapável nesta realidade. A estrangeiridade não representa um sentimento que está no homem ou no mundo, individualmente, mas sim na relação entre os dois. Afirmar a estrangeiridade como expressão possível do absurdo camuseano significa reconhecer que os homens são necessariamente esvaziados de qualquer esperança perante a realidade, indiferentes ao mundo.
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