A essência e a representação: uma análise acerca da crítica da imitação teatral em Rousseau.

Autores

  • Luciano da Silva Façanha Universidade Federal do Maranhão - UFMA
  • Antonio Carlos Borges da Silva Universidade Federal do Maranhão - UFMA

Resumo

No ano de 1757, D’Alembert compôs para o dicionário da Enciclopédia um verbete intitulado Genebra no qual o filósofo fazia uma série de observações sobre os costumes dos genebrinos. O autor questionava ainda a proibição dos teatros de comédia em seu território com o pretexto de proteger a juventude da corrupção dos costumes supostamente acarretada pelos espetáculos. Segundo D’Alembert, Genebra se equivocara quanto a esse ponto. Ao invés de proibir os espetáculos, deveria discipliná-los mediante leis apropriadas. Este fato, em síntese, levou Rousseau a escrever as suas objeções às opiniões de D’Alembert. Rousseau argumentou que, modernamente, o teatro havia perdido a sua relação de identidade entre as virtudes cívicas e aquelas representadas no palco, como se poderia constatar ao se estudar as origens da tragédia grega. O nascimento das artes dramáticas está associado a uma paideia, ou seja, a um ideal de formação ética do cidadão, com a finalidade de contribuir com o fortalecimento dos interesses coletivos (do Estado). Não obstante, Rousseau apontou a dependência das artes teatrais em relação ao interesse particular do espectador. Nesse sentido, as ações representadas no palco apenas reproduzem a moral vigente em uma determinada sociedade. Assim, uma sociedade degenerada não poderia representar outros valores morais que não os seus próprios. Coisa bem diferente se passa com as festas cívicas (públicas), realizadas ao ar livre e sem o aparato cênico dos espetáculos. Essas festas seriam excelentes oportunidades para os cidadãos mostrarem-se tal como são, sem os obstáculos da representação, que é artificializada. Como os espetáculos teatrais são realizados em locais fechados (privados), submetidos a uma série de normas, e mediante pagamento de ingresso, estes não seriam os mais adequados a uma pequena República nos moldes de Genebra, por exemplo. Este artigo objetiva discutir alguns pontos importantes da crítica de Rousseau aos espetáculos em geral. Assume-se que a crítica de Rousseau ao teatro, formulada na obra Carta a D’Alembert, se fundamenta no campo da análise da função social das artes. Pode-se depreender então que as artes dramáticas, enquanto representação, estão associadas à vida política e social de um determinado povo e que, desse modo, o pensamento estético em Rousseau se insere no contexto de uma crítica da cultura.

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Biografia do Autor

Luciano da Silva Façanha, Universidade Federal do Maranhão - UFMA

Pós-Doutorado em Filosofia, estética do Século XVIII - PUC/SP. Doutor e Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Bacharel em Direito pela Universidade Cidade de São Paulo e licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão. Atua na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), como professor Adjunto no Departamento de Filosofia (DEFIL); Coordenador do Programa de Pós-graduação em Cultura e Sociedade - Mestrado Interdisciplinar (PPGCult); Professor nos Mestrados em Cultura e Sociedade e Mestrado Profissional em Filosofia da UFMA - PROF-Filo/UFMA. Foi coordenador do DINTER em Filosofia USP/UFMA; Coordena o NEPI Núcleo de Estudos do Pensamento Iluminista; é líder do Grupo de Estudo e Pesquisa Interdisciplinar Jean-Jacques Rousseau UFMA (GEPI Rousseau UFMA), registrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq. Integrante do Núcleo de sustentação do GT Rousseau e o Iluminismo da ANPOF (Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia). Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase no Pensamento do Século XVIII, atuando principalmente nos temas relacionados à estética do século XVIII, História da Filosofia Moderna, Iluminismo, problemas da linguagem na filosofia, História, Filosofia e Literatura, Belas-Letras e Belas-Artes. Se dedica aos estudos dos filósofos Jean-Jacques Rousseau, Diderot, Voltaire e Montesquieu e a teoria crítica literária contemporânea de Maurice Blanchot e Roland Barthes referentes aos estudos estéticos do XVIII.

Antonio Carlos Borges da Silva, Universidade Federal do Maranhão - UFMA

Mestrando em Cultura e sociedade pela Universidade Federal do Maranhão. Graduação em letras pela Universidade Federal do Maranhão; Pós-graduação lato sensu em Gestão do trabalho pedagógico: Supervisão Escolar - FACINTER; Técnico em Assuntos Educacionais na UFMA; Atuou na Rede Privada de Educação Básica como professor de Inglês, Português e Literatura Brasileira (2003-2012); Docente de Língua Estrangeira - Inglês do Ensino Médio da Rede Educação Básica; Membro participante do Grupo de Estudo e Pesquisa Interdisciplinar Jean-Jacques Rousseau (GEPI ROUSSEAU/UFMA) vinculado ao CNPq. Área de interesse: Educação, Cultura, Filosofia Moderna e Estética. 

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Publicado

2019-07-05

Edição

Seção

Artigos